Logo abaixo de um banner de propaganda colorido e luxuoso da Prefeitura, o articulista apôs a manchete: “Quando a liberdade de imprensa pode causar danos”, complementada por uma mensagem na foto: “Quando a divulgação de informações sem checar fontes pode comprometer vidas e carreiras”. Na sequência, desenvolve uma bula da moral para os blogueiros conquistenses. Diz ele que observou-se, na quinta-feira (25), “algo inaceitável e sem precedentes”.

O dia 25 de abril foi o dia em que a Polícia Federal (PF) adentrou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em uma operação chamada de Dropout, que identificou fraude milionária na compra de testes de Covid-19 em 2020. Algo sem precedentes na história da administração pública municipal de Vitória da Conquista. Contudo, o ineditismo a que o insigne redator se refere não foi a operação, o escândalo em si.

De acordo com a introdução do sermão, “um blog local publicou uma matéria com uma imagem de uma mala de dinheiro, sugerindo que se tratava de uma apreensão na Secretaria de Saúde de Vitória da Conquista, o que acabou sendo divulgado em todo o país. O problema é que essa notícia não tinha fontes confiáveis e levou a uma distorção que tentou ferir a reputação de pessoas sérias e honestas.”

Na tentativa de ensinar o padre nosso ao vigário, o autor da reprimenda ao blog não nominado (há uns 15 ativos em Vitória da Conquista), atinge a todos e a qualquer um. Mas, antes e além disso, como um clérigo a determinar penitências, desanda a indicar qual o comportamento a ser adotado, ensejando uma sentença que lhe chegou pelos interessados em se defender das consequências do crime encontrado pela PF.

Ora, as fotos saíram da Policia Federal para a imprensa sem que fosse, naquele momento, informado onde estava a mala de dinheiro ao ser apreendida. A PF tem fé de ofício. Trouxe ao nosso conhecimento a ação dela na Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, assim destacado para não sobrar dúvida de que aquele dinheiro poderia ter sido, sim, encontrado na casa de um dos indiciados, ainda membros do governo municipal, ou mesmo no vão escuro de uma escada da repartição pública.

Isso me parece que se alguém foi induzido foi a imprensa, e não este ou aquele blog – seja ele qual for – “que levou a uma distorção que tentou ferir a reputação de pessoas sérias e honestas”.

Fake news é uma coisa, erro é outra. Não é o erro que determina a fake news, é a intenção de praticá-la. Qualquer pessoa pode falhar, escrever errado, seguir uma fonte e se equivocar na publicação de uma informação errada. Daí a se tratar de tentar “ferir a reputação de pessoas sérias e honestas”, com o objetivo de “comprometer vidas e carreiras” é uma distância maior que entre a Terra e o purgatório.

Este BLOG, que leva meu nome, minha responsabilidade e minha história, também publicou a foto da mala. Era o que havia de mais contundente no conjunto de informações que chegou da Polícia Federal. A mala simbolizava o tamanho do golpe, a existência dele. E ela estava no contexto da operação, não foi uma mala que a PF achou no meio da estrada, na feira livre ou na porta da igreja.

Tenho certeza de que o redator do Política e Resenha não se referia a este BLOG. Mas, me atingiu, irresponsavelmente, ao esconder a quem critica, ao brindar blogueiros e jornalistas com uma homilia moralista fundada na relação pessoal que mantém com a estrutura superior.

Jesus Cristo disse, conforme Mateus 7, 1 a 6: “Não julguem, e não serão julgados. Pois, da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; a medida com que medirem será usada como medida para vocês. Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, mas não se dá conta da viga (trave) que está no seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe‑me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga (trave) no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga (trave) do seu olho e, então, você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”.

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