A manchete deste artigo parece com os títulos de teses e ensaios acadêmicos, daqueles cheios de hipóteses (quase certezas) adquiridas na pesquisa e corroboradas pela literatura especializada e citações de notáveis. Mas, não é. Trata-se apenas de uma impressão pessoal, uma tentativa de ver algumas fotografias sob a luz da semiótica, com o reforço da vivência pessoal no campo da política. Assim, já antecipo meu pedido de desculpas com os especialistas, mestres e doutores pelos equívocos de leitura e interpretação cometidos.

Mas, olhe bem para as fotos. Para ver melhor clique, que elas serão ampliadas. Veja o lugar ocupado pelas duas mulheres entre vários homens, em momentos em que elas, em tese, deveriam estar em situação de igual ou maior destaque que a maioria deles.

Veja Lúcia Rocha, vereadora e pré-candidata do MDB à Prefeitura de Vitória da Conquista, citada diversas vezes pelo governador da Bahia como um dos nomes de sua preferência para ganhar a eleição. Reparem no esforço que ela faz para que sua imagem se destaque. E ela estava nesses locais a convite, pelo tamanho da sua importância no processo político conquistense em andamento este ano.

Agora repare onde está a prefeita Sheila Lemos (União) no momento em que o governador apresenta aquele ridículo cartaz, que mais parece um trabalho feito no velho Word Art, da Microsoft, com informações de uma obra que ele acabara de autorizar no município governado por ela, que é a única mulher no palco, embora Lúcia estivesse também presente ao evento (lançamento da exposição agropecuária). Não reparem só no lugar onde Sheila está, vejam a expressão facial dela, especialmente na segunda foto.

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Obviamente, cada pessoa tem um ponto de vista e entende as imagens de maneira individual e específica, creio, porém, que muitos hão de concordar que nos registros falta, no mínimo, algum cavalheirismo, já que a hierarquia, nesses eventos, é sempre o senhor governador e os outros, ‘se ajeitem como puderem’. No entanto, há mais que isso. Há a exacerbada relevância que os partidários da autoridade maior dão a si mesmos, a vaidade, a concorrência político-eleitoral. Há, sobretudo, a representatividade do domínio masculino na política, o machismo – estrutural, dir-se-á, não sentido, talvez não deliberado, naquele momento, porém consentido.

De acordo com a única pesquisa registrada divulgada, Sheila e Lúcia somam mais de 60% das intenções de voto. Isso significa que de cada dez eleitores conquistenses, seis querem ver uma mulher comandando o município a partir de 2025. Lúcia está em seu oitavo mandato de vereadora consecutivo e Sheila completa hoje 1.213 dias como gestora municipal. As duas representam as mais de 138 mil mulheres eleitoras do município e uma história em que poucas tiveram espaço ou galgaram posições políticas relevantes. Em 184 anos de funcionamento como município, Vitória da Conquista teve apenas 12 mulheres eleitas para a Câmara de Vereadores e somente três como vice-prefeitas, sendo que uma delas foi convencida a desistir.

Infelizmente, a própria prefeita – que alcançou o cargo na condição de vice, após o falecimento do prefeito Herzem Gusmão – assina artigos em sites e grava vídeos partidários afirmando que a mulher deve assumir espaços de liderança, gestão e poder, mas fez pouco para mudar o quadro onde ela poderia fazê-lo, que é o governo municipal. Com Sheila Lemos, as mulheres passaram a ter menos cargos de direção do que havia na gestão de Herzem Gusmão, por exemplo. Elas são 44% em cargos de assessoria, coordenação e gerência, ante 56% de homens, de acordo com o Portal da Transparência. A proporção é ainda menor em relação ao secretariado, onde são apenas três mulheres, ou 18,75%, em um conjunto de 16 secretarias. Se incluir os cargos de primeiro escalão na administração indireta (Emurc e Fundação Pública de Saúde/Hospital Esaú Matos) o percentual feminino cai para 16,7%.

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